Vanuza Alves Santos Carvalho
Na Arte, Mestra Vanuza
Me considero uma grande influencer capoeira. Minha influência na capoeira vai além da plataforma digital, vai além de academia... Por onde passo, eu incentivo a prática da capoeira, pois ela está no meu andar, no meu falar, no meu cantar, no meu vestir, na minha pele.
Não sou capoeirista só de academia, sou capoeirista de corpo, alma e coração.
Nasci em 18/01/1971, na cidade de Itamaraju, Bahia, e me criei desde os 2 anos de idade* na cidade de São Paulo, capital. Conheci a capoeira através do meu irmão mais velho, conhecido e reconhecido como Mestre Pequeno,que desde pequeno praticava capoeira e como tínhamos muita afinidade, quando ele se tornou professor, começou a dar aulas e a me levar para treinar com ele.
E em 1987, aos 16 anos de idade dei inicio a minha trajetória na capoeira, e logo no primeiro dia de treino não aguentei o tranco e literalmente desmaiei, mas no outro dia eu estava lá, no outro, no outro... e então provei para a capoeira e para toda rapaziada que eu tinha ido para ficar, e com o passar do tempo a capoeira se tornou parte de mim e eu parte dela, não conseguia mais separar minha vida da capoeira, se tornou uma coisa só, e a 38 anos eu tenho uma vida dedicada a capoeira. Não nasci na capoeira, mas nasci para a capoeira.
Não nasci na capoeira, mas nasci para a capoeira.
Não foi fácil! Se ainda hoje mulheres encontram dificuldades, resistências e discriminação por parte de alguns machistas e preconceituosos, imaginem na época em que comecei. Quando iniciei, eu era a única menina, e as mulheres eram raras nas rodas.
Uma vez, enquanto jogava, um desses machistas teve a infeliz ideia de fazer um comentário totalmente desnecessário para o meu irmão – que também era meu Mestre. Ele disse que iria jogar comigo e me dar uma rasteira para me mostrar que "lugar de mulher era em casa". O que ele não contava era que estava falando com o cara mais brabo daquela roda – e que esse cara era meu irmão.
Meu irmão respondeu:
Você vai ter que dar uma rasteira em mim também, pois a mina é minha irmã.
O homem até tentou se desculpar, dizendo que estava brincando, mas não adiantou. E, na linguagem da capoeira, tomou seu pau.
Essa foi apenas uma das muitas atitudes machistas que vivi. Como já disse, eu era a única menina nos treinos. De vez em quando, entrava alguma, mas logo saía – algumas porque a família não apoiava, outras porque o namorado enciumava. Mas eu não me importava se estava sozinha ou não. Eu estava ali para aprender o que um dia eu ensinaria.
Sempre fui uma mulher determinada, e em 1994, ainda como instrutora de capoeira, comecei a dar aulas só para mulheres em uma academia de balé, a Callegari. Com o tempo, percebi que ao dar aulas apenas para mulheres, eu mesma estava sendo discriminadora. Então, decidi dar aulas para todos, porque capoeira é para homem, menino e mulher – não devemos fazer acepção de pessoas.
E deu muito certo! A academia começou a lotar. Ainda um pouco insegura com a quantidade de alunos que estavam chegando, convidei o Mestre Paulo, que na época ainda era professor e já dava aulas em uma academia próxima. Como eu já o ajudava em tudo, unimos o útil ao agradável e seguimos juntos por mais de 32 anos, com a mesma direção e os mesmos objetivos.
Em 1995, com honra e formalidades, me tornei a primeira professora de capoeira formada pelo Mestre Pequeno, do grupo de capoeira Mar de Itapuã. Foi ali que me formei também como pessoa. Aprendi não só a capoeira, mas valores que carrego para a vida inteira.
Foi nesse caminho que conheci um parceiro de treino, que mais tarde se tornaria *meu parceiro na vida*. Tivemos nossos maiores tesouros:
- Leonardo, hoje com 27 anos, mora nos EUA, é professor de capoeira e lutador profissional de MMA. Carrega consigo o nome da capoeira: Leo Capoeira! Gravem bem esse nome, pois ainda ouvirão falar muito dele.
- Vitória, com 23 anos, também professora de capoeira. Com mais de 380 mil seguidores nas redes sociais, já é uma grande influenciadora da arte capoeira.
E foi a partir dali da academia Mar de Itapuã que constitui minha família.
Meus filhos nasceram capoeirista,
Músicas de capoeira era para eles canção de ninar, deram seus primeiros passos ao som do berimbau, cresceram e se divertiram nas rodas de capoeira.
Nas minhas gestações nunca deixei de estar ou de praticar a capoeira, depois que meus filhos nasceram também não deixei a capoeira, quando meu primeiro filho nasceu não tínhamos carro e para chegar até a academia tínhamos que pegar um ônibus, um trem e outro ônibus pois moramos no município de Itaquaquecetuba e a academia ficava na vila Diva São Paulo, um trajeto de mais ou menos uma hora e meia, e não importava a distancia, e as dificuldades que eu tinha para chegar nunca foram motivos de desculpas ou motivos para me afastar da capoeira, pois o amor que eu tinha e tenho por ela sempre foram muito mais forte que as circunstâncias.
No ano de 2007 me tornei Mestra de capoeira foi um momento memorável, muito marcante na minha vida, além de ter sido a primeira mulher formada do Mestre pequeno, também fui a primeira a se tornar Mestra, me lembro que muitas duvidas vieram na minha cabeça não me achava capaz para receber a graduação, mas diante as palavras do meu Mestre que disse que para ele, eu já era mais Mestre que muitos mestres, que as coisas que eu já tinha feito na capoeira e para capoeira me tornava digna de receber o titulo, diante dessas palavras e de ter cumprido o regimento de ter feito discípulos, recebi a graduação de Mestra.
Sou uma grande contribuinte da nossa arte popular brasileira, fiz e faço a diferença.
- Sou presidente da Associação Desportiva Capoart-Arte em Capoeira
- Inclui a capoeira em escolas estaduais e particulares
- Dirigi um projeto que ajudou muitas crianças carentes a se tornarem cidadãos de bem
- Viajei para muitos estados representando e defendendo a classe feminina
- Organizei e contribui em diversos eventos de capoeira
- Dirigi a gravação do CD o “Canto do Capoeira” De Mestre Paulo
- Dirigi o álbum musical da Capoart “Verdades”
- Fiz parte da direção de 4 DVDS de capoeira denominados “Acrobacias de Capoeira” com teor histórico, cultural educativo e motivacional, o qual fizeram e ainda fazem grande sucesso no mundo da capoeira
- Trabalhei como entrevistadora na revista Ginca Capoeira da Editora Escala
Também para revista Praticando Capoeira, que tinha distribuição para todo Brasil.
*Sempre cuidei e cuido em defender a Capoeira como, Luta, cultura, esporte, arte, terapia...
*Contribuí e contribuo para o crescimento cada vez maior dessa arte que amo tanto.
*Aprendi a me posicionar como mulher na capoeira, como Mestra, e ensino e incentivo outras mulheres a se capacitarem para se posicionarem.
Entre alguns títulos de muito valor que recebi na capoeira, no ano de 2024 também recebi o título de Doutor Honoris Causa, título esse concedido a pessoas que tenham contribuído de forma notável para humanidade ou para o país. É um título de máxima distinção que uma faculdade pode conceder.
Com muito orgulho, além de Mestra e grande influenciadora da capoeira, também posso me considerar escritora. Escrevi a biografia do Mestre Paulo, um livro que ainda não foi publicado, mas com a graça de DEUS, quando eu conseguir publicá-lo, irá ajudar muitas pessoas a continuar acreditando e lutando por seus sonhos.
*Ajudei a escrever a história para um filme de capoeira denominado “O menino que queria voar e na capoeira encontrou suas asas”, e no que depender de mim, da minha Fé e da minha força de vontade, ainda hei de ver esse filme nos cinemas do Brasil e do Mundo.
Tenho um grande sonho, pelo qual lutarei: fazer um Podcast com Mestres de capoeira, contando suas histórias e as deixando eternizadas. Assim, poderei contribuir um pouco pelo muito que cada Mestre já fez pela capoeira.
Aqui está um pouquinho dos meus 38 anos de história como praticante, incentivadora, defensora e contribuinte da capoeira, onde eu sei que muitos merecerão meus ensinamentos e serão gratos pela minha pequena contribuição na capoeira, e outros tantos serão ingratos.
Mas o meu trabalho é para a capoeira, independente de gratos ou ingratos, e até quando Deus me permitir.
“Combaterei o bom combate, completarei a carreira, guardarei a Fé.”
Agradeço a DEUS, ao meu mestre Pequeno
Por a capoeira eu poder jogar e ao Mestre Paulo, por juntos trabalharmos e defendermos a capoeira da melhor forma possível, agradeço a todos os integrantes do grupo...
Grupo esse que faz parte da minha história e se tornou parte da minha vida, e está no meu coração.
Aqui eu ensinei e aprendi muitas coisas, aqui eu tive grandes alegrias e grandes decepções, aqui eu ajudei muitas pessoas crescerem na capoeira e na vida. Aqui eu entendi que perdoar é necessário, mas seguir junto é opção.
Aprendi que só sente a dor da traição aquele que é traído. Aprendi que nem sempre quem te acompanha é o que te segue. Aprendi que colegas teremos muitos, mas amigos de verdade serão poucos... mas eles existem e são para todas as horas.
Aprendi que ser líder é sentir o sabor e o dessabor da vida.
Com as alegrias, eu aprendi que é muito bom ter pessoas que amamos do nosso lado, e com as tristezas, aprendi que são elas que nos fortalecem.
A Capoart foi, é e sempre será a minha escola da vida.
Tenho 54 anos de idade e a capoeira me faz sentir como toda menina deveria sentir: disposta a treinar todos os dias. E, independente das limitações físicas que hoje tenho, nunca me desmotivei de treinar. Treino com dores que só DEUS sabe, mas dor maior seria não poder treinar.
Na passarela da vida, por isso e por tudo que fiz e faço pela capoeira, me considero um modelo a ser seguido.
Mestra Vanuza.